"Chegamos a um outro século e o homem, por meio dos avanços da ciência, produz um sistema de técnicas de informação. Estas passam a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando a presença planetária desse novo sistema técnico"
(SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. 2000)


terça-feira, 8 de março de 2011

Uma reflexão sobre os desafios de ser mulher - 08 de Março de 2011


Por Ione Rocha, 







FOTO: Maria da Penha, protagonista da luta recente pelos direitos da Mulher no Brasil. Sua história de vitima de violência por parte do companheiro, deu origem a Lei nº 11.340 "Maria da Penha" um dos temas mais discutidos no Dia Internacional da Mulher









É comum vermos a figura feminina associada ao consumismo fútil de produtos de beleza, (in) utilidades cosméticas e domésticas, a indústria da moda, e a banalização do corpo e da sexualidade feminina. É freqüente também, a figura feminina estar associada ao consumo masculino, como em propagandas de carro, cigarros, bebidas em que a mulher é explorada com um forte apelo sensual/sexual, como um objeto de recompensa àqueles materialmente bem sucedidos,  como se à mulher importasse apenas o conteúdo material de um homem, seu objetivo fosse apenas ser mais uma agregada nas despesas, e sua inteligência reduzida ao papel de acompanhante masculina.
Ocorre que, no Brasil mais de 51% da população é composta de mulheres, e destas o numero de chefes da família e mulheres com nível superior é crescente. São estas mulheres que na contramão da sociedade de consumo, quebram os paradigmas de submissão da mulher ao preconceito social. Preconceito que passa pelas piadinhas mais comuns como “mulher ao volante...”, o machismo mais grotesco que afirma que “mulher minha não trabalha fora de casa” até o fato de mulheres competentes com nível superior completo ganharem cerca de 40% menos que os homens  segundo dados do IBGE (2010), uma diferença de cerca de R$ 1.100 a menos para elas (Ministério do Trabalho, 2011).
Cerca de 53% das pessoas a frente de negócios estáveis no Brasil são mulheres. Elas também são mais da metade do total de pessoas com nível superior o Brasil, cujo mercado e a absorção da mão-de-obra também crescem. Ainda segundo dados do IBGE (2010), crescem em cerca de 79%  o número de mulheres chefes de família, ou seja, “a mulher como pessoa de referência, está relacionado com a maior participação da mulher no mercado de trabalho e, conseqüentemente, maior contribuição para o rendimento da família” (O Globo, 2007). De acordo com o portal administradores.com (2011) o numero de empreendedores no Brasil é crescente e liderado atualmente por mulheres, o que as torna importante alvo de atenção por instituições como o IBGE, o IPEA, o Sebrae, o IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade), e do próprio Estado brasileiro pela necessidade da criação, ampliação e manutenção das políticas públicas.
No entanto, os dados de violência contra a mulher perduram e se reproduzem em diversas formas. Violência pode ser entendida como aquilo que agride a dignidade humana, que fere a individualidade e a integridade física e emocional e, sobretudo, a agressão que não possibilita a defesa em igual medida.  Os desdobramentos da violência podem ser físicos, freqüentemente observados nos assédios sexuais,  agresssões “surras”, mutilações, seqüestros, e assassinatos, muitas vezes de autoria dos companheiros, maridos, namorados e até mesmo os pais; e psicológicos desde ameaças, até o assédio moral no ambiente de trabalho, cuja figura feminina é em muitos casos mais fácil de submeter. É imprescindível salientar que esse tipo de violência não tem idade e nem classe social, mesmo sabendo que a condição socioeconômica torna as populações mais vulneráveis. Porém existe uma matriz cultural por traz da violência contra a mulher, e com isso os casos podem pode ocorrer de forma velada em camadas mais abastadas da sociedade, vinculadas ao status social, e com mulheres jovens, que também representam um alvo crescente de violência nos “namoros”. Segundo a Delegada de atenção a mulher em Vitória da Conquista, “Todas as mulheres nos procuram para realizar denúncias, independente do nível de instrução, classe social ou cor. Nós não temos um perfil, qualquer uma pode ser vítima de violência, inclusive nós temos casos de casais homoafetivos aqui na delegacia” (site vitóriadaconquista.com.br, 2010).
A emancipação feminina, a elevação do grau de instrução, a capacidade empreendedora reforçam na contemporaneidade a independência da mulher e ao mesmo tempo colocam-nas em evidência como um grande contingente de população economicamente ativa com uma contribuição socioeconômica real no Brasil e, por outro lado nos desafiam a questionarmos sobre a concepção do gênero feminino enquanto representação humana.   É inegável que a condição de mulher traz em si peculiaridades especialmente afetivas, que nos diferenciam dos homens, mesmo quando ocupamos funções e posições antes restritas ao gênero masculino. É extremamente válida a referencia a mulher apresentada pelos poetas e compositores musicais, mas retomo que é necessário observar como a fragilidade humana pode ser manipulada em direção a figura feminina e com isso tornar-se ideologicamente mais um instrumento de submissão.

Em Vitória da Conquista, contamos com a Delegacia de Atenção à Mulher, Atendimento psicológico para mulheres em risco de violência vinculado a Faculdade de Tecnologia e Ciências. A União de Mulheres, que entre atividades de luta pelos direitos da mulher, realiza  trabalho social com uma creche administrada pela instituição,  a Associação das donas de casa, que oferece cursos que objetivam a geração de renda entre as mulheres, e o Centro de Referência e Atenção a Mulher ligado à Prefeitura Municipal.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com o texto/artigo.
    Dizendo também que existe uma séria tendência de comportamentos, onde mulheres socializam-se como submissas de um "pai" por exemplo, e tendem a continuar neste mesmo status, por exemplo como dona de casa, sendo assim dependente e continuamente subalterna de uma figura masculina.
    E a extinção desta tendência já começou,com mulheres cursando nível superior, outras empreendedoras,adquirindo assim emancipação plena.
    Feliz Dia Da Mulher.

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  2. Adorei o texto!!Muito importante estarmos em constante reflexão e percebermos que embora muitas conquistas tenham sido alcançadas,a luta pelos direitos, pelo respeito e dignidade das mulheres continua até conseguirmos acabar com todas as atrocidades que infelizmente ainda acontecem.

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